Afrescos de capela em Mauá unem arte sacra e modernismo
BIA BONDUKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
17/12/2017 02h00
No último dia 8 de dezembro, a cidade de Mauá, na Grande São Paulo, esteve duplamente em festa.
Em primeiro lugar, comemorou o aniversário de 63 anos de emancipação do município, que antes era um distrito de Santo André. E ainda celebrou o tombamento parcial da capela Cristo Rei, no interior da Santa Casa de Mauá, que preserva 23 murais com representações bíblicas no local. O processo levou 15 anos e contou com o envolvimento da Igreja Católica.
As obras foram pintadas entre 1946 e 1947 pelo artista romeno Emeric Marcier (1916-1990), a convite da Juventude Operária Católica.
Afrescos na capela Cristo Rei, em Mauá
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Nascido em Cluj, fronteira da Romênia com a Hungria, Marcier frequentou a Escola de Belas Artes de Brera, em Milão, e concluiu seus estudos em 1938.
Fugindo da Segunda Guerra Mundial, mudou-se para o Brasil na década de 1940, sendo acolhido pelos poetas Mário de Andrade e Jorge de Lima. Após três anos radicado no país, onde formou família, o artista foi chamado para pintar as paredes da capela.
A técnica utilizada foi o afresco, pintura em cima de gesso ou argamassa úmidos –especialidade de Marcier.
OUTRO OLHAR
Os murais trazem um olhar diferente das pinturas sacras. Exemplo disso são imagens como a Torre de Babel, que é rodeada por dois aviões –possível referência à Segunda Guerra Mundial.
Em outro mural, um soldado que aparece açoitando Jesus Cristo tem traços semelhantes aos de Adolf Hitler.
De acordo com a mestre em estética e história da arte Silvia Ahlers, autora da dissertação "Murais de Marcier em Mauá" (2008), essa mistura de arte sacra com o traço modernista do artista aponta para o pós-modernismo.
A passagem do tempo teve forte impacto nas obras, que passaram por um processo de restauração, em 1994.
"Há sete meses, foi feita uma força-tarefa para retomar o processo de tombamento dos murais, para preservar a memória da capela. O intuito é reformá-la, evitando obras que entrem em conflito com o que já está tombado", diz Claudia Crepaldi, secretária da Cultura e Juventude da Prefeitura de Mauá.
Com o anúncio do tombamento parcial, a ideia é restaurar as obras assim que seja obtido um patrocínio de empresas locais.
Já a provedoria da Santa Casa tem planos para expandir o local.
De acordo com Rogério Borges, gestor de marketing do hospital, "a ideia é construir uma sala para contar a história das pinturas, desde a vinda de Emeric ao Brasil, até o convite para ir a Mauá".
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CAPELA CRISTO REI
ONDE avenida Dom José Gaspar, 1374, Vila Assis, dentro da Santa Casa de Mauá
QUANDO Visitas devem ser agendadas pelo telefone (11) 4513-1818, ramal 233